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Indústria brasileira prepara retomada
Encomendas de máquinas sobem e sinalizam que empresas se preparam para voltar a crescer
A indústria brasileira se prepara para pisar no acelerador. Pela primeira vez desde a eclosão da crise financeira global, há exatamente um ano, fabricantes de máquinas vêm registrando aumento de consultas de indústrias interessadas em comprar equipamentos mais modernos.
"Vínhamos num marasmo até julho, mas em agosto o quadro mudou", afirma o diretor secretário da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza. Nos últimos dois meses, 35 mil pessoas acessaram o site da entidade para obter informações sobre financiamento para compra de máquinas. É quase o mesmo número registrado em todo o ano de 2008, que teve 37 mil acessos.
A recuperação que começa a ser sentida agora não vai evitar que a indústria feche o ano com uma grande queda em relação a 2008. As projeções são de uma retração entre 7% e 9%, enquanto já há quase consenso de que o Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar o ano com um pequeno crescimento. Para 2010, no entanto, já há projeções de alta de até 12,5%, para um PIB com alta em torno de 5%.
A mudança atual de cenário é nítida nas máquinas pesadas, como tornos e prensas, usadas por montadoras, fabricantes de eletrodomésticos e de equipamentos para petróleo. O aumento de pedidos de orçamento para aquisição de equipamentos também ocorre nos setores de saneamento e têxtil.
A renovação das máquinas, desencadeada pelo reaquecimento da economia e pela facilidade de crédito oferecida pelo BNDES a partir de julho, é a primeira pista de que o investimento começa a voltar lentamente e pode mudar a rota de queda registrada no primeiro semestre. Mas os investimentos mais fortes, em novas fábricas, por exemplo, só são esperados mesmo para o ano que vem.
Números do PIB divulgados na sexta-feira mostram que o investimento como um todo na economia, não só na indústria, ficou parado no segundo trimestre ante o primeiro, descontados os efeitos sazonais, após ter caído 12,3% no primeiro trimestre ante o último de 2008. Mas, ante o segundo trimestre do ano passado, a queda foi de 17%.
Estudo da LCA Consultores Associados que relaciona o volume de investimento total da economia desde 1996 medido pelo IBGE e o uso da capacidade instalada da indústria, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que toda vez que as fábricas passam a usar, na média, mais de 81,5% da sua capacidade de produção, o investimento volta a crescer.
Dados do uso da capacidade da indústria da FGV mostram que houve um salto de 1,5 ponto porcentual nesse indicador de julho para agosto. No mês passado, o uso da capacidade atingiu 81,3%, o maior nível desde novembro de 2008 (84%), mas ainda abaixo das médias obtidas entre 1996 e 2008 (82,3%) e entre 2003 e 2008 (83,4%).
"Até dezembro o uso da capacidade deve atingir 82% e desencadear a volta dos investimentos, inicialmente com a renovação das máquinas", diz o economista-chefe da LCA, Braulio Borges. Para ele, o investimento pode crescer cerca de 10% no terceiro trimestre ante o segundo, mas ficando ainda 7% abaixo dos mesmos meses de 2008. A estabilidade do investimento no segundo trimestre em relação ao primeiro, diz Borges, reforça a tendência da volta do crescimento já neste trimestre. "O investimento é muito volátil: quando cai, cai com gosto. Depois, primeiro se estabiliza para retomar o crescimento."
Após a paradeira que houve desde o fim de 2008, a Ergomat, líder na produção de tornos automáticos, por exemplo, começou a fechar negócios a partir de maio. O volume de pedidos, que tinha caído 40% entre setembro e abril, já cresceu 30% de maio até hoje, conta o diretor de vendas, Alfredo Ferrari. "A situação está melhorando por causa dos benefícios dados à indústria automobilística e à linha branca", diz.